quinta-feira, 8 de setembro de 2011

160 dias inesquecíveis "por aí"


Finisterre - Final do Caminho de Santiago

160 dias de viagem... e, se eu visse esse post antes de começar a jornada, não acreditaria que seria possível acontecer tudo dessa maneira tão incrível, inesquecível e impossível de ser reproduzida.

Cruzei a Espanha caminhando durante 27 dias por mais de 800 km no Caminho de Santiago, estudei e aprendi a falar espanhol em Salamanca, visitei Amsterdan, Bruxelas e Londres, trabalhei em um banco de microcrédito na Índia, fui professor de futebol para crianças indianas pobres, criei o projeto mais legal da minha vida – Be In Their Shoes – e comprei tênis para 185 crianças, visitei Tailândia, Indonésia e Dubai, tirei mais de 8.000 fotos, colecionei centenas de histórias, ganhei dezenas de amigos espalhados por todo o mundo. E aprendi que planejar demais só faz pararmos de olhar para o presente e que se pensarmos positivo tudo sempre dá certo!

Das experiências mais distintas como andar de Rick Shaw e Tuk Tuk na Índia e Tailândia, andar em três em uma moto na Índia (haha...), comer no chão e com a mão, não ter banho quente por quase dois meses, também fiz coisas com mais “regalia” como a famosa massagem tailandesa, mergulhar em Bali, saltar de paraquedas em Dubai, voar em um túnel de vento e comi tudo que se pode imaginar de todas as culinárias por onde passei (só não consegui comer insetos na Tailândia!).

Conheci muita gente diferente e interessante e com histórias das mais inimagináveis possíveis. Fiz amigos, deixei lembranças e carregarei dezenas de outras comigo.

Passei por todas (ou quase todas) as emoções que uma vida pode nos trazer, da triste perda de meu avô bem no meio da minha viagem, até a alegria e emoção indescritíveis de ver centenas de crianças felizes jogando futebol com um par de tênis na Índia!! Do frio nos Pirineus caminhando até Santiago ao calor úmido da Índia, das dores e dúvidas ao pensamento positivo e confiança em mim mesmo... tudo, cada momento, ficou registrado para sempre.

Agora me sinto em paz e com a sensação de que não podia ter sido melhor ou diferente este momento sabático. Superei minhas, sempre altas, expectativas... e agora volto renovado para continuar a caminhada com muito mais conhecimento sobre mim e sobre o mundo.

E o aprendizado mais simples e grandioso de todo esse tempo foi saber que a vida é feita de altos e baixos o tempo todo e que basta pensarmos positivo e acreditarmos em nós mesmos que o dia-a-dia se tornará muitíssimo mais fácil. Não volto com uma grande resposta para tudo, mas volto com dezenas de informações valiosas ao meu respeito.

De volta para casa, para perto daquilo que é o mais importante na minha vida: a minha família e os meus amigos.

E o próximo passo agora? Ele vai acontecer naturalmente, como a viagem me ensinou. Fazendo minha parte, pensando positivo e acreditando em mim, sei que este “próximo passo” aparecerá antes mesmo de eu procurá-lo de verdade... e assim seguirá tudo.

MUITO OBRIGADO aos que acompanharam o Blog, aos que deram o feedback de autoconhecimento, aos que torceram para que tudo saísse bem e pelas centenas de e-mails carinhosos que recebi durante todo esse período!! Sem palavras...

Wandering Off – Um Sabático por Marcel Tavelini em uma caminhada de 160 dias pelo mundo
We are, finally, all wanderers in search of knowledge. Most of us hold the dream of becoming something better than we are, something larger, richer, in some way more important to the world and ourselves. Too often, the way taken is the wrong way, with too much emphasis on what we want to have, rather than what we wish to become.
Louis L'Amour
(Education of a Wandering Man)

"Férias das Férias" - parte III: Dubai




Depois de quase 24 horas em trânsito, várias aventuras e uma mala extraviada (encontrada dois dias depois intacta, ainda bem!), cheguei na casa do Benas – grande amigo que trabalha em Dubai. Profissão: pular de avião com uma mochila nas costas e uma pessoa amarrada no peito!! Haha... paraquedista.

Eu, Benas e Bruninha de novo para mais uma semana juntos, mas dessa vez no Oriente Médio - nos últimos dias do Ramadã e com temperaturas médias acima dos 40 graus celsius, para ser mais interessante!

Dubai é o símbolo da megalomania e da ostentação de dinheiro. Os Emirados Árabes Unidos é um país composto por sete Emirados, sendo Abu Dabhi e Dubai os, de longe, mais poderosos pela quantidade de petróleo($$) que têm.
Os Sheiks de Abu Dabhi e Dubai são, respectivamente, o presidente e o vice presidente do país – e, como pode-se imaginar, são muito poderosos. Lá não existe democracia, os Sheiks são os reis e passam o reinado para os filhos, uma monarquia mesmo.
A coisa é tão “simples” como você entrar no maior shopping center do mundo, sair e dar de cara com a maior fonte do mundo (tipo a do Cassino Belagio em Las Vegas, com as águas dançantes. Um espetáculo de se ver!), e olhar para cima e ver o prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa (com quase 1km de altura!). Como se não bastasse, imagine que tudo isso é no meio do deserto e foi construído nos últimos 39 anos, data da fundação da cidade. Com a invenção de dessalinização da água, petróleo jorrando do chão e mais a imaginação fértil dos Sheiks, nada parece ser impossível por lá. No mar, resolveram desenhar uma palmeira artificial, uma das maiores ilhas artificiais do mundo, com 5km por 5km, onde encontram-se muitos condomínios e hotéis de luxo, como o famoso Atlantis – um cartão postal da cidade (apesar de eu preferir o “Pacifis”!! haha...)

Desenharam o mapa mundi no mar também com cada ilha sendo um país, e há mais outra palmeira que está para acabar. De cima, é inacreditável ver o que os caras fizeram...
Daí então, você começa a saber as coisas sobre o príncipe Hamdan – filho do “brincalhão” sheik de Dubai. Um cara de 28 anos de idade com uma fortuna de 18 bilhões de dólares. Só isso. Não, na verdade, um cara criativo e sem frescura... porque não se tem limite para ter frescura com essa quantidade infindável de dinheiro, convenhamos. Quer fazer, faz. Dinheiro nunca é problema.

Dentre várias “coisinhas” que o cara tem, como a maior coleção de carros do mundo, com mais de 500 carros, uma coleção de centenas de falcões, milhares de cavalos caríssimos, e uma outra porção de animais exóticos e caros, o que “me levou” até Dubai foi uma outra “brincadeirinha” que ele inventou: resolveu virar paraquedista e daí, o que era “mais razoável” de se fazer? “Sim, vou montar uma base de paraquedismo aqui em Dubai, contratar os melhores paraquedistas do mundo, comprar tudo do bom e do melhor, avião, equipamentos, construir prédio, etc... tudo em cash, rápido e sem frescura. Ah, vou colocar um túnel de vento na minha casa para eu treinar as vezes, custa só uns 10 milhões de dólares e aí eu contrato o melhor cara do mundo de túnel de vento para ser meu professor. Para os funcionários, casa, carro, contas pagas, etc. E as vezes, posso levá-los para andar no meu iate (o segundo mais caro do mundo, com mais de 40 quartos e 80 pessoas de staff), etc. Sem frescura!”

É assim a vida do príncipe. Cada dia escutava uma história dele... e tem outras mais que não se pode imaginar. Uma outra “simples” é que ele é brincalhão, no sentido da palavra mesmo. Pegou um cara do paraquedismo, prendeu o cara (polícia e tudo envolvida na brincadeirinha) por três horas. Achou super engraçado e deu um jipe para o cara de “valeu por aceitar a sacanagem que te armei, foi muito engraçado”. Enfim... com tanto dinheiro, tem que se ter criatividade para se arrumar diversão assim.

Bom, falando em paraquedismo, fiz o meu segundo salto (tinha saltado com o Benas no Brasil já há dois anos atrás) lá, e agora com uma paisagem incrível – bem em cima da palmeira artificial que contei. É impressionante o negócio!!! E também fui ver o túnel de vento do cara, em uma das suas manções/palácios (onde só os paraquedistas têm acesso porque precisam colocar o brinquedinho para funcionar) e acabei voando também. Muuuuuiiiiito legal o negócio!!!!

Visitamos um outro Emirado chamado Fujirah, onde fizemos um mergulho em uma ilha chamada Snoopy pelo seu formato semelhante ao personagem do desenho. Muito legal... além de cardumes de peixes coloridos, até arraia nós vimos. Muito bacana!!

E daí acabou Dubai... sem frescura!

sábado, 3 de setembro de 2011

"Férias das Férias" - parte II: Bali




Deixo tudo (ou quase tudo) em Bangkok e levo uma mochila com cinco trocas de roupa para passar os próximos dias na Indonésia, ou em uma de suas 13.000 ilhas: Bali. Quatro horas de vôo e chego a Denpasar, a capital de Bali. Entre uma fila de visto aqui e um saque que me deixou “rico” (nunca tinha sacado "UM MILHÃO, Sílvio" – cada dólar vale 8.500 rúpias!!! haha), encontrei um casal (um DJ francês e uma chilena figuras) que ia para a mesma cidade que eu e, 20 minutos depois, estávamos no mesmo taxi contando histórias de viagem. E neste ponto, sempre ouço um “Noooossa, você tá viajando há mais de 5 meses sozinho??”...etc, etc, etc.

Como tinha só 5 dias, infelizmente (e insuficiente para conhecer uma ilha tão especial como Bali), acabei escolhendo três pontos principais: Ubud – um centro cultural da ilha, onde se encontra muita riqueza de arte, pinturas e, claro, muita beleza natural e cultura religiosa; Sanur e Kuta, praias(e que praias!), basicamente. No meio disso tudo, ainda inventei um "cruise" para uma ilha paradisíaca chamada Lembongan.

Bali é um lugar muito fantástico e de paz, especialmente se você não vai para cidades tão turísticas como Kuta (onde o trânsito e o comércio/turismo tomou conta de tudo). O povo balinês é o mais simpático do mundo, ganharam dos Tailandeses!!! Fazem questão de te ajudar, de te chamar pelo nome, de dar bom dia, e de sempre sorrir. É incrível como são “do bem” mesmo!

O que mais achei interessante de tudo foi a religião deles, o hinduísmo - muito forte e onipresente. É a única ilha da Indonésia que é hindu, todo o restante é muçulmana (e, aliás, a maior população muçulmana do mundo vive na Indonésia! Sempre achei que era pelos lados lá do oriente médio). A cada dois passos, encontra-se nas calçadas (geralmente na entrada das casas ou estabelecimentos comerciais) as ofertas aos deuses – uma espécie de recipiente de folha de bananeira com arroz, outros grãos, flores e cores que simbolizam a trindade divina hindu (os deuses Shiva, Vishnu e Bhrama). Quando estas ofertas estão no chão, simbolizam o afastamento dos maus espíritos. Quando estas ofertas estão sobre pequenos templos, ou elevadas de alguma maneira sobre algum muro ou porta, simbolizam a devoção aos deuses – um agradecimento pela riqueza da vida.

Existe uma crença muito forte no espírito e na reencarnação. O Hinduísmo balinês tem influências de muitas outras religiões e crenças onde o poder dos espíritos está em todos os objetos e elementos da vida. Tudo na natureza é manifestação do espírito supremo. O calendário lá tem 35 dias no mês e o ano, 420 dias. E quase todos os dias são sagrados (mudança de lua, nascer do sol, dia do Deus X... há uma centena de dias especiais e de devoção aos deuses). E então, entre os templos que não faltam na paisagem natural da ilha, um mais bonito que o outro, sempre se vê os balineses simpáticos rezando em seus rituais sagrados, acendendo um incenso e colocando mais uma oferta aos Deuses.

A religião hindu acredita na continuação da vida após a morte, e na forte crença de que temos que fazer o bem nessa vida para a evolução de nosso espírito e para que a nossa próxima reencarnação seja ainda melhor. Quando um balinês morre, assim como hindus de todas as partes do mundo, não são enterrados. Eles fazem um ritual de cremação bastante interessante. Há uma espécie de evento mesmo. A comunidade do vilarejo todo se reúne, comem todos juntos, e são construídos carros feitos com bambu e todos enfeitados com figuras hindus, onde o corpo do falecido é carregado em uma procissão até o local de cremação, ao ar livre, juntamente com o carro de bambu e tudo. Depois da cremação, as cinzas são lançadas ao mar (para o deus do mar) e, um dia depois, uma outra procissão ocorre para que a família traga o espírito de volta a casa. Uma espécie de madeira talhada simboliza o objeto onde o espírito volta a residir e este pedaço “sagrado” é venerado todos os dias pela família através das ofertas. Um balinês que conheci me disse que, depois do arroz para alimentação, o que mais se consome na ilha são os “ingredientes” destas ofertas. Elas estão, realmente, por toda a parte!

Uma cremação particular é muito cara, por tudo que envolve a “festa” toda (da comida para o vilarejo todo, à construção dos carros de bambu - e o custo em si da cremação). Chega a custar mais de 10 mil dólares até. E, então, por esse motivo, o que é um costume tradicional é a cremação em massa: vários carros de bambu como expliquei, cada um com um corpo dentro, e centenas de pessoas carregando todo o cortejo até o local de cremação: que sempre ocorre perto do meio dia, por acreditarem que é o horário quando as portas do céu estão abertas. É incrível de ver, muito interessante.

A culinária é fantástica também. Tive que comer tudo lá, sem peso na consciência... nem pelo tanto de comida, nem pelo preço - que é muito barato. O prato mais famoso da ilha é o “suckling pork”, uma espécie de porco no rolo, servido com arroz e legumes – muito bom! E o segundo prato super conhecido também é o “crispy duck”, um pato inteiro assado até ficar crocante, servido com batatas e legumes picantes. Sensacional!! Na ilha há, como em toda a Asia praticamente, o predomínio do arroz na alimentação – e por isso, encontram-se por toda a parte as plantações de arroz: feitas em desnível e completamente alagadas. Uma cachoeira verde quase!! Muito legal!

A beleza natural da ilha... hum...não consigo descrever. De praias com águas cristalinas, a vulcões, serras e encostas recheadas de templos e cachoeiras....realmente tem que ver para entender o que é. Deslumbrante!!

Simplesmente um lugar que deve ser conhecido e explorado com mais calma, sem dúvida. Um dia vou ter que voltar! E daí vai ter que ser um mês inteiro!

Agora to em Dubai, são e salvo, depois de 24 horas em trânsito da Indonésia até aqui com direito a Tuk Tuk de novo em Bangkok em busca da “mala perdida” no meio de um trânsito maluco que quase não me deixa pegar o avião para cá horas mais tarde! Cheguei nos Emirados Árabes sem mala – extraviada!! Felizmente dois dias depois, consegui minhas cuecas limpas de volta! Haha...

To chegando, Brasil!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Férias das Férias" - parte I: Tailândia




E vim para a Tailândia!!! Depois de vários meses viajando e fazendo as três coisas que tinha planejado (Caminho de Santiago, estudar um idioma e fazer um trabalho voluntário na Asia), to no início das “férias das férias” agora!!! :D

Fiquei quatro dias em Bangkok. Insuficiente para se ter noção de um país mas, como pensei, bom saber que existem lugares tão legais para voltar depois, com mais calma e tempo.

A Tailândia é basicamente budista, então não faltaram templos para visitar, embora, dessa vez, não tenha tido uma vida “turística” com estresse de “ter que ver tudo”. Mas vi algumas coisas bem legais.

No primeiro dia, encontrei um cara (via CouchSurfing) peculiar (de pai Uruguaio, mãe americana e nascido em Florianópolis. Grafiteiro e professor de inglês em Bangkok, com vivências como morar numa favela do Rio fazendo grafite por seis meses). Tomamos uma com dois ingleses amigos deles num bairro típico Thai. Interessante as conversas, as cervejas e as partidas de sinuca.

Nos outros dias, peguei por várias vezes um dos barquinhos no rio Chao Phraya (um meio de transporte para muita coisa lá, desde crianças que vão à escola e pessoas ao trabalho até turistas como eu) e visitei templos que ficavam na margem (Wat Pho) e, claro, andei pelos bairros tailandeses aleatoriamente.

Visitei o famoso Floating Market – uma feira onde os vendedores estão no meio do rio com suas canoas cheias de frutas e outras diversas coisas para vender. Muito interessante... e, ainda mais bacana porque encontrei três pessoas muito legais: um casal de portugueses e uma brasileira -  que me acompanharam pelos outros dias.

Os portugueses: ambos da cidade do Porto, um é juiz e a outra, advogada. Eram um tanto “turistas demais” para meu gosto, porque andavam com o guia debaixo do braço e sabiam TODOS os nomes e histórias de TUDO que tinha que se ver em Bangkok. Faziam TUDO todos os dias, um pouco “correria” e sem momentos “cerveja num bar aleatório”, como eu queria.
A brasileira: Christine, mora na Alemanha há cinco anos e foi quando percebi o quanto o mundo é pequeno mesmo. A primeira coisa foi que depois de 10 minutos descobrimos que eu conheço a prima dela. A mãe dela é de Porto Ferreira, uma cidade do lado de Pirassununga e Santa Rita. A segunda coincidência foi que no outro dia, ligo para meus pais e eles me perguntam “você conheceu uma menina ai de Porto Ferreira?”. O namorado da mãe dela encontrou meus pais naquele mesmo dia e perguntou “vocês tem algum parente Tavelini na Tailândia?”. Haha... e o resto da história pode-se imaginar. A terceira coincidência foi que a Chris tinha conhecido uma outra brasileira que morava no Japão e estava visitando Bangkok com a família. Ligamos para ela para sairmos a noite e, também, depois de 10 minutos de conversa eu dizia “Então, eu to viajando há um tempo já. Acabei de sair da Índia, fiz um trabalho voluntário lá em um banco de microcrédito..” e fui interrompido!!!! Ela diz: “não é você que fez o projeto dos tênis, né!?!?”. SIMMM!!!!!!!!!!! Uma alegria transbordante de saber que o projeto foi parar no Japão e eu acabava de conhecer uma pessoa que sabia disso na Tailândia!!!! Sensacional!!!! E tudo se deu por conta de que estudo com uma amiga dela no Ibmec, e que repassou a idéia do projeto.

No penúltimo dia, fomos ao mercado Chatuchak, o maior mercado a céu aberto do mundo!!! Encontra-se de tudo lá, de animais, obras de arte, relógios e bolsas falsificadas (sim, estamos do lado da China!), comida e etc.

Por falar em comida, essa parte da viagem agora tá sendo de pura experimentação das culinárias locais. Depois de perder o medo (na verdade ser encorajado pela Chris), acabei que comecei a experimentar comidas da rua (ao contrário do que fiz na Índia, onde tinha medo de tudo. Passar mal lá onde eu estava era morte na certa!! Haha): o prato Tailandês mais famoso é o Pad Thai (noodles, feitos de arroz, com ovo, uma raiz do feijão de quando ele é novo ainda (beans prouts, não sei o nome),  cebola verde e amendoim por cima), muito bom! Tive que repetir vários dias!
Na rua encontrei muitas outras coisas para comer, até os insetos (besouros, baratas, vermes...ou é o que era para mim!). Não consegui provar, mas acho que me arrependi agora! Devia ter dado uma "mordiscadela" para ver como era!!! haha...

Fiz também a clássica massagem tailandesa. Na verdade não foi a clássica, porque só fiz pés, pernas e ombros e cabeça. Muito barato!! Uma hora por menos de 10 reais... e um lugar melhor que outro, tranqüilidade asiática com músicas e incensos orientais. Tinha até lugares onde os peixes eram os “massageadores”, mas acabei não experimentando por falta de tempo.

No último dia, pegamos um trem local para uma cachoeira no norte de Bangkok. Uma experiência um pouco cansativa porque ficamos no trem por umas 10 horas no total, mas muito interessante. Visitamos algumas cidades históricas, cenários da segunda guerra mundial, e no final uma cachoeira. O cobrador do trem era uma figura, um senhorzinho baixinho e muito simpático (como todos os Tailandeses). Em uma das paradas, me mostrou um lugar para tomar um sorvete típico (sorvete com arroz, muito bom por sinal!). Disse a eles que ia ao banheiro primeiro e quando voltei ele tava lá, com o sorvete comprado para mim e não queria receber o dinheiro por aquilo. “Isso é um presente para você, eu to te dando, não se preocupe”! Que lugar isso acontece!?!? Muito legal!!!

Bom, agora é Bali!!! Mais um pouco de férias... e agora com praia, sol, muito mais cultura e culinária!!!!

PS: Álbum atualizado!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Densa Índia...




Há mais de um mês, eu chegava a Mumbai e iniciava um período interessante de meu sabático: vivenciar algo distinto, uma cultura totalmente diferente... e não imaginava o quanto.


Assustei diversas vezes com o que vi, me encantei com outras... e, no final da história, tenho mais uma semana para deixar este país, que não esquecerei jamais – seja pelo que aprendi e vi, seja por tudo aquilo que pensei enquanto me deparava com uma vida precária, em uma zona rural, com milhares de indianos que não têm idéia, nem de longe, do que é uma vida do lado ocidental do globo, cultural e socialmente falando.

Viajei o quanto pude no pouco tempo que aqui fiquei: cidade de peregrinação hinduísta em Pandharpur, montanhas em Mahabaleswar, as famosas carvernas (templos) esculpidas na rocha em Ellora e Ajanta, a capital Delhi e Agra (onde fica o Taj Mahal), e Pune. Não consegui ver o lado meditação e yoga tão famosos na Índia – mas vi bastante a apreciação religiosa deste povo por suas mais diversas religiões.

Não tenho a intenção, nem pretensão, de desencorajar quem quer que seja que esteja interessado em fazer uma viagem à Índia, mas particularmente acredito que não volte para cá por um bom e longo tempo. Um país bastante interessante, como disse, mas bastante caótico e desagradável muitas vezes – pela temperatura agora neste clima monçônico sobretudo, pela falta de senso de “personal space” das pessoas, pela multidão que te cerca e te olha o tempo inteiro e, não menos importante, pela noção de higiene com as mãos, água e comida.

A gastronomia vegetariana, no entanto, me surpreendeu bastante: sempre bastante saborosa, embora achasse que o sabor “bom” que sempre fui acostumado fosse inerente à carne e sua gordura. Dei-me bastante bem com isso, apreciei a comida apimentada de todos os dias, os sempre presente “chapatis”, arroz e amendoim.

A música, embora não saiba muito o seu significado, é onipresente: você escuta seu vizinho tomando banho cantando, os carros, tratores e motos na rua com seus rádios ligados em alto volume, os celulares das pessoas em bom som, e até as buzinas de todos os tipos de veículos se transformam em música (irritante, confesso... mas parte da sonoridade indiana).

As cores da Índia são a coisa mais fantástica: tudo, sem exceção, é muito rico em cores sempre fortes – dos sáris das mulheres e turbantes dos homens aos templos hindus. A arte têxtil deste país, portanto, é muito rica em criatividade, qualidade e beleza.

As religiões são sempre envoltas de muitas histórias, lendas, mitos. 75% da Índia é hinduísta, 15% islâmica, e os 10% restantes se dividem entre budismo, sikhismo, jainismo e catolicismo. A que mais gostei, e com cuja tive mais contato, foi a hinduísta com seus mais de 36 milhões de deuses ligados à trindade principal dos deuses Shiva, Vishnu e Brahma. Ganeshi, o elefante, e um dos filhos de Shiva, tem sua importância nacional, sobretudo no estado onde moro, em Maharashtra, e com o qual mais me identifiquei por seu significado de “prosperidade, sorte e remoção de obstáculos”: de empresas que iniciam suas atividades a estudantes na véspera de uma prova, todos reverenciam Ganeshi para terem sucesso e boa sorte na “nova etapa”. E isso é o que me contagiou: um deus hindu que vou levar comigo, para este novo ciclo que se inicia em minha vida agora quando voltar ao Brasil.

Os idiomas são muitos: 26 línguas em 32 estados, onde cada estado tem sua própria língua/dialeto. O hindu é o mais falado em número de pessoas. Em Maharashtra, o idioma é o Marathi. Em Punjab, o punjabi...em Assam, assamese... e assim por diante.

O esporte principal é o críquete. Em qualquer direção que você olhar aqui, é possível encontrar um grupo de crianças jogando este esporte - a paixão nacional deles, como a nossa pelo futebol. A última copa do mundo de críquete foi em Mumbai, e a Índia foi campeã. Um amigo indiano me disse que em frente ao estádio, o tráfego ficou interditado por dois dias devido à comemoração e a cidade, que já é caótica, virou um inferno. Eles, assim como nós brasileiros, param tudo para ver os jogos, ninguém trabalha praticamente. Eu gostaria de entender um pouco mais das regras, mas ainda não consegui parar para “estudar”, só para ver... e percebi que é uma prática derivada do beisebol (ou vice versa).

A pobreza, pelo menos por onde passei, parece constante e um modo de vida que se torna, ou é tido como, natural ou normal. Tenho a sensação de que, embora não conheça tanto o Brasil, somos um país em desenvolvimento bastante à frente da Índia: seja na tecnologia (da agricultura às redes de transporte de energia), no saneamento básico, saúde e, porque não, na qualidade de vida. Desculpo-me por minha visão limitada, mas ainda não vi no Brasil o que presenciei aqui, ainda que imagine que deva haver, infelizmente, muita coisa parecida, sobretudo em regiões mais pobres do norte e nordeste do nosso país. A coisa mais chocante para mim aqui foi ver as pessoas fazerem suas necessidades na rua. Toda manhã, quando vou ao futebol, cruzo com dezenas destas pessoas - todas portanto um baldinho de água, andando cada um em uma direção, procurando um lugar "mais tranqüilo" para defecarem.

O trabalho no banco e o projeto para as crianças em Mhaswad acho que superaram minhas expectativas, em ambos os extremos: o trabalho no banco, talvez por eu ter colocado muita expectativa (como um mal costume que tenho, e que preciso aprender a controlar e mudar), me entristeceu um pouco. Não tive a atenção e comprometimento, seja do staff do banco, seja da própria direção. Achei que um voluntário vindo de tão longe, que arcou com todos os custos, de passagem, a estadia e alimentação - e com TODA a energia possível voltada para ajudar - deveria ser mais valorizado. Tentei fazer tudo que esteve ao meu alcance, mas não sei mensurar o quanto consegui ser útil para uma organização que, infelizmente, não tenho certeza de que objetivos e valores tem em mente. Mas isso é um assunto particular para outra hora...e não convém aqui. O que foi para mim a melhor experiência e, sim, dependeu deste banco e desta organização não-governamental, foi eu ter tido uma “luz” para criar algo que me motivou o tempo inteiro, me emocionou, me surpreendeu pela participação de tanta gente, pela repercussão que teve, pelos inúmeros e-mails carinhosos que recebi de gente próxima e até desconhecida. Não tenho dúvida em afirmar que este projeto foi a coisa mais interessante e de sentido verdadeiro que já fiz em toda minha vida - com início, meio e fim – embora queira crer que isto não seja um fim, nem para a fundação Mann Deshi (que espero que continue com a idéia de alguma maneira), nem para todas as pessoas que consegui “atingir” com essa causa e que pararam para pensar que, com uma simples idéia, podemos (e somos muito capazes) mudar alguma coisa, por mais simples e banal que seja, como um par de tênis que pode trazer alegria, confiança e motivação para uma criança praticar esporte de modo mais seguro e adequado.

Estou terminando o “capítulo 3” da minha viagem, mas quero muito olhar para trás e ver o quanto foi engrandecedor, mesmo passando por muitos “perrengues”, ter vivido estes quase dois meses aqui.

Agora vão faltar os adendos deste capítulo... na Tailândia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos. Depois, dentro de um mês, retornarei ao grande e maravilhoso BRASIL, meu país que, ainda, não consigo trocar por nada que já vi neste mundo inteiro.

Queria ter escrito capítulos mais específicos sobre as histórias engraçadas (como andar em TRÊS numa moto, eu e mais dois indianos), perrengues, micos, impressões que tive aqui neste período “indiano”, mas me dei conta que estou no final da trajetória e achei melhor fazer um resumo todo de minhas impressões como tentei nesse post. Com cerveja em uma mesa, no entanto, vou ter muitas mais histórias para contar... ah, se vou! :-D

Valeu por todas as mensagens e vibrações positivas até aqui!


Volto logo com a história dos tênis...

sábado, 23 de julho de 2011

Be In Their Shoes - BITS: 220 Volts

Imagina um cara ligado nos 220 Volts. Agora imagina esse cara muito ansioso, super motivado com um projeto. E depois pensa tudo isso multiplicado por um valor bastante alto - fazendo com que esse cara não consiga mais dormir e só pensar nessa iniciativa, ter mil idéias por minuto, etc... e para finalizar, imagina esse cara lançando este projeto e começando a ver os resultados superando suas expectativas logo nas primeiras horas de divulgação!!!!!!

Pois é, esse cara sou eu e ninguém tem idéia do que to sentindo agora – e não vou conseguir explicar. É meia noite aqui e vou tentar me controlar para não ficar checando a internet até amanhã cedo – que só funciona, bem lentamente, no computador da Emília (se fosse no meu, ia dormir com ele do meu lado, clicando atualizar de minuto em minuto!).

To falando do projeto “Be In Their Shoes – BITS”. Em 4 horas, arrecadamos US$ 450,00!!!!!!!!!!!!!! E ainda é dia no Brasil e a cada “refresh” no browser, chega uma nova doação!!!! Incrível e MUITO gratificante!!!!

Não tenho dúvida que vamos conseguir cumprir nosso objetivo e conseguir comprar 185 pares de tênis para todas as crianças!!!! E mais, me alegro muito por minha rede de contatos ter sido tão produtiva até agora, com tanta gente boa doando e espalhando a causa mundo afora. Nestas primeiras 4 horas que monitorei (que nem cachorro olhando o frango girar na padaria), tivemos mais de 500 visitas na página do projeto e, se conseguir dormir agora, quero acordar amanhã e ter números ainda mais surpreendentes. Sei que é o começo e a curva de doação vai ser maior nos primeiros momentos, mas é excitante ver um começo assim!

Já tenho várias idéias para os próximos dias: já convenci a presidente e fundadora do banco a gravar uma entrevista e já tenho mil outras coisas na cabeça para deixar o projeto “aceso” durante as próximas três semanas. Ainda falta muito, estamos longe do "target" desejado, foi só o início, mas ver que você é capaz, JUNTO COM TODOS, de fazer algo que tem sentido não tem preço e não tem comparação com nada que já fiz antes em minha vida.

A Emília, coitada, já tá super cansada de ficar me ouvindo O DIA INTEIRO dizendo “Nossa, tive mais uma idéia... por que não fazemos isso, daí podemos juntar com aquilo e depois colocar tudo junto na página, e depois mandar um e-mail falando isso, para um grupo de pessoas X, que ... blá, blá, blá. Trabalhamos um bocado essa semana porque, desde sábado, quando a idéia surgiu, não conseguimos mais parar de ter idéias.

Começou com a idéia do “vamos fazer isso, que acha?”. Então tivemos que dar um nome legal para o projeto. Ai veio a história de ter um Blog para as pessoas terem todas as informações necessárias e, depois, pensamos no canal de doação: os números das nossas contas bancárias no Brasil e na Itália (e íamos ver se conseguiríamos uma conta na Índia e uma nos EUA com nossos contatos) para depois sacarmos a grana aqui. Mas, daí veio a idéia, beeeem mais profissional da Emília, de utilizar o Paypal. Pensamos que o site não poderia estar só em inglês, que teríamos que fazer mais dois outros Blogs nas nossas línguas para que todo mundo fosse capaz de entender. E aí pensamos na estrutura, nas coisas que seriam interessantes ter como informações. “Vamos colocar fotos das crianças. Não, vamos fazer mais, vamos fazer um vídeo então!”. E daí fizemos o vídeo. E mil revisões dos textos, nas três línguas (e, infelizmente, ainda deve ter vários erros por ai... desculpem-me e, aliás, me avisem para que eu corrija, se puderem, por favor). “E vamos mandar e-mails para TODA a nossa rede de contatos, família, amigos, colegas da faculdade, colegas da pós, trabalho, etc”. “Poxa, vamos mandar também para os 72 ex voluntários que já passaram pelo Banco Mann Deshi. Eles vão divulgar a causa com a mesma vontade e força que a gente. Ótima idéia”. E tem o Facebook. “Vamos fazer um “banner” e marcar todo mundo na foto para divulgar ainda mais” (desculpe pelos marcados nas fotos, aliás! E não é possível marcar mais que 48 pessoas em uma mesma foto – descobri. O Facebook não pensa que posso ir na torcida do Corinthians e querer marcar todos os meus amigos na foto!?!?!? Ia ser bem mais que 48, pô!!! Hahaha).
E ainda tem muito mais coisas na cabeça, e quero fazer de TUDO para conseguir cumprir a missão junto com todos vocês. Como disse, quero ser só a “ponte” e trazer essa oportunidade de experimentar a doação, de onde quer que você esteja agora. Te fará muito bem, garanto! E para as crianças, SEM DÚVIDA, será uma alegria e uma motivação à prática de esportes.

Amanhã mesmo vou começar com as coisas que ainda não tivemos tempo de fazer: iniciar os contatos com empresas privadas possíveis interessadas na idéia, entrar em comunidades de doadores nas redes sociais, pensar no script para a entrevista com a Chetna (presidente e fundadora do banco que comentei), ver como fazer para colocar (e onde) no Blog o resultado atualizado das doações (queria que fosse igual a Telesena do Sííííílvio – de hora em hora! Haha), começar a me preocupar com os sucos de maçã (veja a doação divertida no site) porque, se continuarmos nesse rítmo (e vamos!), até segunda-feira vamos ter que ter “todo mundo no ar e com suco de maçã”, etc, etc, etc... e somando-se a isso tudo, as idéias que devo ter enquanto "durmo".

To pensando seriamente em checar as doações umas 3h da manhã. Haha... mas vou tentar resistir e dormir, embora não tenha vontade para tal agora (mesmo dormindo pouco na última noite por causa do projeto e por levantar cedo para jogar bola com a criançada. Aliás, hoje apanhei em campo, voltei com hematomas na perna de tanta canelada que tomei!! Haha... tive que resgatar minha bolsa de medicamentos do Caminho de Santiago da mala até! E, das duas, uma: ou compro tênis confortáveis para as crianças ou vou ter que lançar outro projeto depois para a compra das caneleiras para ninguém se machucar muito por lá!!! Até o professor me bateu hoje...haha. Era perna pra tudo que é lado!!!).

Bom, vou dormir que amanhã tem muito mais – e vou postar este texto no Blog logo cedo também!

Queria agradecer, de CORAÇÃO mesmo, a todo o apoio que tenho recebido das pessoas nestas últimas quatro horas – dos que doaram, dos que divulgaram ainda mais a idéia, dos que elogiaram, etc. Vou responder TODOS os e-mails, agradecer a cada um, só preciso arrumar um tempo entre uma idéia e outra!!! :-P

Quaisquer idéias, sugestões, comentários para melhorar a iniciativa serão EXTREMANTE BEM VINDOS!

Super feliz com o excelente início e projeção futura do projeto.

Marcel
Be In Their Shoes – BITS: beintheirshoes.blogspot.com




sábado, 9 de julho de 2011

Projeto e atividades: no banco sim, mas jogando como titular também

Como já expliquei um pouco no post “Capítulo 3: "Everyone A Changemaker" - Índia”, vou passar quase dois meses aqui em Mhaswad, sede central do banco Mann Deshi (que tem mais seis localidades de atuação aqui no estado de Maharashtra onde atua).

Assim que cheguei aqui, conversei com a CEO e fundadora do banco, Chetna Sinha, e outras pessoas de cargos mais “estratégicos” para saber com qual projeto eu me envolveria. Logo no segundo dia, dentre dois projetos possíveis, aceitei o desafio de tentar ajudá-los com um deles.

Resumo de como o banco funciona:
É o primeiro banco rural da Índia e o pioneiro no mundo do microcrédito nesse país. Basicamente, trabalha com clientes muito pobres (com ganhos diários inferiores a US$2,00) e todos mulheres – por acreditarem que a mulher faz o uso mais efetivo do dinheiro quando se trata de investimento e proteção familiar.
Há dois tipos de créditos que podem ser tomados: i) individual ou ii) em grupo*
Os empréstimos são sempre de quantias muito baixas, comparados aos empréstimos costumeiramente feito por bancos maiores . Giram em torno dos 30 dólares (ou menos) – e todos estes créditos têm a função de estimular o empreendedorismos destas mulheres pobres que podem usá-los para, por exemplo, comprar frutas para revender (veja), adquirir uma máquina de costura e panos para costurar, bambu para fazer cestas (veja), etc.
Uma idéia inovadora do banco é a estruturação de cobrança destes empréstimos diariamente através de agentes (veja) – que vão até as casas das clientes para receber o dinheiro ganho no dia-a-dia com o trabalho (antes que elas possam, eventualmente, gastá-los).
* São formados grupos de 5 a 15 mulheres e o empréstimo é feito individualmente, no entanto todas se responsabilizam pelos pagamentos de cada integrante daquele grupo, ou seja, se alguém não pagar, todas são afetadas. Isso traz um certo compromisso e ajuda mútua entre elas.

O projeto:
Os gerentes das 6 unidades que o banco possui não têm um processo estruturado, nem as vezes têm tempo suficiente, para saber quais clientes não estão pagando regularmente – ou seja, não sabem quem são os inadimplentes antes do final do mês (quando, através de um processo de baixa das contas, ficam sabendo desta informação).
O que vou fazer é criar um processo sistemático diário para informar tanto estes gerentes quando o departamento central de empréstimos do banco sobre os clientes que não pagaram suas obrigações por pelo menos três dias. Desta forma, o banco terá, além de maior controle, a possibilidade de tomar alguma ação preventiva (verificar se o cliente teve algum problema, se podem ajudá-los, etc... e, de alguma forma, reduzir a quantidade de devedores/inadimplentes).
Hoje fiz a apresentação do projeto que desenhei para a CEO e a CAO do banco. Discutimos e parecem ter gostado da proposta. Agora é “mão-na-massa” para cumprir o prometido até o final de agosto.


Novidade - "professor" de futebol:
O banco Mann Deshi tem uma fundação com o mesmo nome que, financiada pelo banco, provê diversas atividades para a comunidade:
- Curso de negócios móvel: um ônibus preparado com máquinas de costura e, as vezes, com computadores também visita vilas ao redor de Mhaswad e ensina as mulheres a costurar, ensina as crianças um pouco de informática e dá aulas de educação financeira);
- Workshops de agricultura: ensinam as pessoas do campo técnicas de agricultura e um pouco de veterinária para cuidar dos animais;
- Rádio Mann Deshi...
- ...
- ...
- E, finalmente, Mann Deshi Champions: com apoio financeiro, o banco criou uma estrutura com professores que incentiva a prática de esportes das crianças. Todos os dias, antes de irem para a escola, mais de 130 crianças de diversas vilas ao redor de Mhaswad tomam um ônibus gratuitamente e vão até um campo onde praticam diversos esportes e, ao final, recebem comida (duas bananas e uma espécie de paçoca - feita de garapa de cana e amendoim).

O convite: 
- “Você joga futebol? Não poderia ensinar as crianças a jogar?”, me disse um funcionário do banco e professor de esportes. 
- “Bem, ahn.... nunca fiz isso, mas gostaria sim de tentar. Quando?” Aceitei a idéia e no dia seguinte já fui para os gramados (de terra!). Foi melhor coisa que aconteceu aqui!

Cheguei super tímido por não ter nunca antes imaginado ensinar algum esporte e falar com centenas de crianças de uma vez. Um dos professores fala um pouco de inglês e fui me apresentando para aquelas criaturas todas me olhando sem piscar um olho - enquanto ele traduzia em tempo real as minhas palavras: “Oi pessoal, tudo bem? Meu nome é Marcel... trabalho para o banco Mann Deshi aqui em Mhaswad. Vou ficar aqui dois meses e espero que consiga ensiná-los um pouco de futebol neste tempo”.
É uma sensação incrível desde quando chego pela manhã. Tenho vários fãs já... haha... andam ao meu lado me seguindo, tentam falar inglês comigo (e muitas vezes falam Marathi sem eu entender nada), ficam atentos no que estou mostrando e têm se divertido bastante acho. Montei uns treinos com cones e finalizações que inventei da minha cabeça e um pouco do que lembro de quando era pequeno na escolinha de futebol em Santa Rita do Passa Quatro. Haha... engraçado.
Nos últimos dois dias, montamos dois times e jogamos por 45 minutos, onde todos corriam em duas direções possíveis – ou atrás da bola todos de uma vez, ou atrás de mim. Haha... independente de eu ter feito o gol ou outro companheiro de time, todos vinham me abraçar e bater as mãos para comemorar! Uma grande festa! Assim que acaba o jogo, eles vêm todos perto de mim perguntar sobre o dia seguinte, se vai haver futebol já. 

Sensação incrível poder tirar um sorriso deles a cada dia. Já tenho vários “amiguinhos” lá e não tenho mais coragem de não acordar as 5:30h da manhã todo dia e andar 5km de bicicleta para vê-los. Quando toca o despertador, dá uma preguiça...mas quando chego lá e vejo tudo, o meu dia começa a ter sentido muito mais verdadeiro - e me sinto muito bem. Coisas simples para mim, mas uma experiência super feliz para eles – primeiro por jogar um esporte diferente de críquete (eles só fazem isso, impressionante) e segundo por ver um alienígena tentando se comunicar e mostrar alguma coisa de futebol com movimentos e mímicas pra eles!!! Haha...




Vou tirar mais fotos do futebol, mas já tem algumas no álbum de Mhaswad.

E assim segue... até eu inventar outra coisa daqui a pouco.